Maltine do Bairro #16 - Eu sou de verdade
2019 realmente começou pra mim.
É, só agora.
Honestamente , não é que tenha começado só agora - mas uma sucessão de fatores e sensações (nos últimos, sei lá, quinze dias? quando foi que a Bru voltou pro Brasil?) que me fizeram sentir viva nesse instante.
Viva de verdade, não sobrevivendo.
Porque tem alguns anos já que a impressão era de estar sobrevivendo. De simplesmente seguir o fluxo e me manter no conforto da apatia. Se eu não arriscasse, se eu não sentisse, não tinha como me machucar. E eu não arriscava. Muitas vezes, nem por opção, mas por estar paralisada. Machucada. O trauma coloca a gente em situações assim.
Só que viver na defensiva tem um problema: você pode até não perder nada, mas também não ganha.
Vai parecer confortável por um tempo, até que de repente você percebe que nem lembra mais como é sentir alguma coisa. E chega a ser desesperador, sabe? Sentir depois de tanto tempo. Não ter controle. Estar vulnerável.
A amigos, pessoas, saídas, ideias novas.
Estava desabafando sobre isso com um amigo que se separou da esposa e voltou do exterior recentemente. Dizendo como é difícil, como às vezes eu preferia ser pra sempre a Ariane apática, que não se interessa por nada ou ninguém (eu me repito, eu sei. Mas é uma luta diária regada a muita terapia). E ele, que tinha tudo pra concordar, pra desejar que as coisas ruins evaporassem e que tudo deixasse de atordoar os sentidos, me corrigiu. “A sina de todos os seres vivos é sentir”, disse sem pesar algum. Sem medo.
E agradeço por isso.
Às vezes a gente precisa de um tempo, sim. Eu já precisei em vários momentos. Mas é bom demais quando ele acaba. Sentir o estômago gelar e o corpo reagir de formas imprevisíveis. Sentir o medo do desconhecido e do incontrolável e, ainda assim, seguir em sua direção.
A gente não sabe exatamente quando acontece. Não precisa se forçar a nada. Simplesmente acontece. Eu confundi isso com algo ruim simplesmente porque o diferente assusta.
Sair da inércia assusta. Você que acompanha essa newsletter deve ter percebido, porque fica claro como eu fico pouco à vontade nos momentos em que percebo que estou sentindo algo - lembra da #2? Ou da #3? Eu insisti demais em apenas sobreviver, sem consequências.
Sobreviver é importante. Mas viver é daora demais.
Os problemas continuam existindo. Sempre existirão. Não dá pra esperar eles acabarem pra começar a ser feliz.
Ser feliz é pra agora. Presente.
E agora, cheia de problemas, dúvidas, incertezas e inseguranças, eu existo. Eu estou viva. E eu sou feliz.
Queria compartilhar com você.
Afinal, todas as vezes em que não estive bem, não hesitei em dizer por aqui.
Coincidência ou não, bateu com esse meu momento o lançamento do clipe novo da Fresno, “De Verdade”, e definitivamente o estômago geladinho se manifestou. Como amo a maneira com que Lucas transmite as mensagens nas letras, como sou apaixonada por essa banda e pqp, como tá lindo esse clipe. Vejam.
“Eu cansei de tentar ser perfeito
Fazendo todas coisas do meu jeito
Eu jamais agi contra a vontade
E hoje, ainda cheio de defeitos
Eu guardo essas marcas no meu peito
Pois são de verdade
São de verdade
Eu sou de verdade”
Consigo olhar no espelho e enxergar as mudanças que me trouxeram até aqui. Os meninos ao meu lado. A terapia. Meus pais. Os desenhos. O apoio e a parceria da Rafa. O Pop Plus. O Réveillon.
É quase palpável minha transformação e eu estou assustada, sabe? Porque gostava de achar que tinha algum controle.
Essa cartinha está um pouco diferente do habitual, eu sei. Mas é que senti que devesse escrever e ao mesmo tempo não tinha muito propósito nisso. Foi assim que a newsletter nasceu, lembra? E aí meio que foi mudando e perdendo um pouco do sentido.
Tô assistindo Jane The Virgin esse mês e foi provavelmente uma das surpresas mais gratas que a Netflix já me proporcionou. Pra quem não conhece a série, ela brinca com os clichês das telenovelas, as novelas mexicanas que a gente tá acostumado a ver por conta da infância regada a SBT. Não preciso dizer que esse tipo de dramalhão nonsense é a minha cara, né? O nome da minha newsletter me denuncia, rs.
É a história de uma mulher que é fruto de uma gravidez na adolescência, criada pela mãe e pela avó (uma senhora extremamente religiosa) e ensinada desde cedo e que sua virgindade é seu bem mais precioso e, por isso, que escolheu se guardar até o casamento. Pois bem: numa reviravolta da vida, já com seus vinte e poucos anos e terminando a faculdade, ainda virgem, ela se vê grávida. E precisa lidar com um monte de coisas ao redor, inclusive o seu constante desejo de ter as coisas sob controle.
Vendo a novelinha da Jane e rindo das trapalhadas da família dela, já me percebi desconstruindo diversos pensamentos nocivos e romantizações desnecessárias em todos os campos da vida. Talvez nem fosse o intuito do programa, mas bateu legal e eu to adorando por isso.
Fui ferida pra caralho nos últimos anos. E me fechei num casulo por conta disso. Mas todo mundo é ferido o tempo todo, sabe? E chegou a hora de fazer algo com isso. Porque me esconder atrás da dor e da desconfiança não vai resolver nada. Talvez só piore tudo, no caso.
Chegou a hora de sair da hibernação.
Tava encerrando a cartinha e recebi a notícia de que o Jonny Craig teve mais uma recaída e foi expulso do Slaves por isso. To triste. Eles acabaram de lançar um EP novo que é minha vida. Além de uma das minhas bandas favoritas, Slaves fez parte do retorno da Ariane fora da bolha. E o Jonny é alguém que eu ouço quase todo dia, que sei que tem inúmeras falhas (inclusive por conta do vício), e que agora vejo se afundando de novo. Dá aquela tristeza de não poder fazer nada. Não sei ao certo por que to falando disso aqui, acho que porque o show foi na mesma época do início da newsletter e um dos momentos mais felizes do meu 2018. Achei irônico acontecer bem agora, mesmo sabendo que uma coisa não tem nada a ver com a outra.
MANDA LINKS
🖤 O Exaustos segue a todo vapor. Queria escolher um só pra colocar aqui, mas gravamos três programas muito legais esse mês: o de Autocuidado, que me rendeu várias mensagens de pessoas com perfis completamente diferentes comemorando a mudança do olhar para si mesmas; o de Tarot, que foi praticamente uma AULA do Rapha em que a gente só ouvia e consumia prazerosamente cada conhecimento e referência que ele compartilhou e o de Ansiedade, que saiu hoje e é com um dos amigos mais queridos que eu poderia ter, o Matheus. Pode ir com fé.
Segunda-feira tem #AbraçoColetivo e falamos mais um monte sobre ansiedade, autocuidado, relacionamentos... Tá intenso, mas tá legal. Espero que divirta você.
🖤 O Weezer lançou um álbum supresa de covers. Não tem o que dizer, apenas dar o play e sentir. No repeat, de preferência. Weezer me anima até quando não é nada incrível. (Ps: NO SCRUBS E PARANOID, PORRA.)
🖤 Minha lojinha segue aberta. Fortalece aí! ✨
Na próxima eu separo coisas de verdade. Essa foi uma surpresa da minha alma, kkk.
(eu não sei como você chegou até mim, mas que bom que chegou. que bom que pudemos tocar a vida um do outro de alguma maneira. não ligo se foram segundos, horas ou meses por perto, se a conexão foi profunda e intensa ou breve. eu sou parte de você agora. você é parte de mim.
inseparável. permanente. eu sou hoje um reflexo do que nosso encontro me causou. não só o nosso, mas todos os encontros, bons e maus. sou um acumulado de experiências, sorrisos, mágoas, dores. cada dia me conheço melhor e descubro mais um pouco.
se não abro as portas a todos na minha vida, é por um motivo: aqueles que permito me ver são também quem eu sou, fragmentos da colcha de retalhos que me tornei. eu não sei como chegamos um ao outro, mas que bom que eu abri a porta. que bom que você entrou. todo dia é o primeiro do resto de uma nova vida - e eu estou feliz por passá-la com você.
é tarde demais pra dizer feliz ano novo?)
Me manda um alô. Me conta como andam as coisas.
Um beijo,
Ari