Maltine do Bairro #17 - madrugada sabor angústia e soco no estômago
não costumo gostar de rubel, na realidade costumo achar chato pra caralho. mas nessa onda de “ah, partiu sentir sentimentos!”, me peguei ouvindo as românticas proibidonas que minha amargura exilou em playlists para o público, não pra mim. e aí tocou “quando bate aquela saudade”.
"É você que tem
Os olhos tão gigantes
E a boca tão gostosa
Eu não vou aguentar
Senta aqui do lado
E tira logo a roupa
E esquece o que não importa
Nem vamos conversar"
ô, é uma brisa boa demais, mermãozim. dá quase pra sentir o cheiro de quem a gente gosta bem de pertinho - mesmo que a vida imponha distâncias malucas. ou que a gente nunca tenha estado de fato perto.
é tão bonito o jeito como ele fala da saudade, da vontade do outro, de beijar até não sentir mais nada e do desejo de dormir e acordar junto.
(daí ele descamba pra altar e eu perco um pouco o tesão. já estava poético o suficiente, não precisa de altar, seja literal ou metafórico. pra que pedestal? pra que prisão? mas pode ser o meu momento, hahahaha.)
eu sou talvez o ser humano mais contraditório que você vai conhecer.
e de certa forma me vi escrita em “quando bate aquela saudade” exatamente porque ainda ontem tinha escrito sobre ausência, saudade e essas coisas que a gente conhece bem mas prefere não divulgar pro mundo. quer dizer, eu nem sempre preferi - sempre curti sentir e botar pra fora. sempre adorei usar o que me deixa à flor da pele pra criar - e depois ver o resultado nas mãos de outras pessoas, conversando com elas e curando-as assim como fez comigo.
mas o tempo foi me deixando meio receosa em expor.
apesar de vir de um lugar real, ainda é ficção. são algumas coisas que eu vivi e senti, outras não. existe o exagero que o formato exige. existem as elipses que a vida nos permite. e nem todo mundo entende isso. então me sinto publicando uma foto nua. explícita. a nude da alma mesmo, sabe?
lembro quando comecei a fazer as tirinhas, lá em 2014. meus desenhos, por mais simples que fossem, sempre lembravam as pessoas reais. não tinham nomes ou detalhes. mas eles estavam lá. e sabiam. quer dizer, não avisei, mas também não apaguei ninguém da minha vida, então eles se viam ali. e, quase sempre, vinham mandar mensagem.
mas eu não queria mensagem nenhuma. as crônicas e tirinhas falavam de términos. de gente que passa por mim, deixa algo e vai embora. tem tanta gente que virou história, nomes que eu não lembro e ainda assim serão para sempre parte de mim.
sempre fui meio como aquela música do zimbra diz:
“Eu nunca soube separar
Amor de boa companhia
Gostava de quem me fazia mal, mas tudo bem..."
e só tava tudo bem porque eu escrevia. aí eu aprendi que não valia deixar a porta aberta pra essas pessoas. mas ela estava aberta.
e teve mais.
namoradas apareceram. muitas! antigas e futuras. eu aprendi nessa época que todo mundo tem passado.
se eles mostraram pra elas ou elas me acompanhavam, nunca vou saber. mas sei que poderia ter criado o clubinho das namoradas se quisesse. e-mails grandes com histórias de frustração, de abuso. desabafos mesmo. não foi ruim, só foi estranho. elas só queriam ser abraçadas, mas nem sempre a gente está disposta a abraçar. várias vezes recebi conselhos lindos de mulheres que nunca conheci e que achavam saber o que eu estava sentindo, afinal estava escrito ali. mas ali não era eu, era meu eu lírico (ainda bem). eu entendo que seja frustrante demais ver alguém que você conheceu de uma maneira diferente, mas ainda eram só histórias. minhas histórias. processadas à minha maneira. problemas que eu era incapaz de resolver, mas capaz de escrever a respeito. eu não queria ter que dar satisfação a desconhecidos sobre elas. não estava expondo ninguém além de mim mesma ali.
até hoje guardo um desses e-mails com muito carinho na memória porque a pessoa que escreveu foi tão honesta que eu não consegui superar. era imatura ainda, não respondi nada - mas as palavras dela seguem no meu coração até hoje.
Eu vi o quanto você se apaixonou por ele naquele texto e eu pensei: "caramba, eu sentia a mesma coisa por ele!". Como me relacionei com ele, foi multiplicado por 1 bilhão, claro. Mas o princípio era exatamente aquilo. Então é isso, né?! Eles fazem isso com todas nós, é sempre igual, é sempre assim. Sejamos fortes, nós precisamos.
Te admiro demais, moça. Seja forte porque o amor não é tudo nessa nossa vida. Nós somos mulheres bacanas.
o amor não é tudo nessa nossa vida.
muita coisa mudou nesse meio tempo, mas não a maneira como eu sinto e processo. eu parei o projeto não pelos outros, mas porque me apaixonei (de verdade, sem eu lírico), entrei num relacionamento extremamente abusivo e infelizmente até hoje não sou muito capaz de falar a respeito. o peso daquele relacionamento não criou só feridas que levaram tempo para cicatrizar - ele roubou também a minha voz. e se agora, anos depois, estou aprendendo a sentir de novo e lidar com toda a confusão que vem junto dessa bagunça, acho natural que seja difícil entender o que fazer com isso tudo que vem explodindo no meu peito. com essa voz que, antes silenciada, agora quer gritar e talvez perca um pouco a noção do volume.
nos últimos dias meu peito parece que não cabe mais em mim, de tanto ar ali - é um ar gelado, que vem me cortando de dentro pra fora. eu tenho medo, me sinto sozinha, sinto que vou explodir, que estou cheia demais de pensamentos demais e sentimentos demais e ao mesmo tempo é tudo tão vazio.
quando a gente se abre pra sentir, tem muita coisa boa, mas também tem coisas ruins, e elas vem feito avalanche.
essa semana eu não tenho muito pra contar. não tenho série nem filme pra indicar. eu só passei aqui pra falar de como às vezes deixar rolar aquela playlist fora da zona de conforto e abraçar a tristezinha é um caminho também. pra se conhecer.
o que vivi desde a última cartinha, bom e ruim, eu quero guardar pra mim por enquanto. quero que sobreviva mais um pouco aqui dentro. sei que tudo tem prazo de validade na nossa estrada e quando paro pra pensar nisso, dá aquele medo genuíno de não ter desfrutado o suficiente. não sei. não faz nem sentido, só é. e, sendo, eu queria que durasse.
mas a gente não tem controle algum.
fica aqui uma playlist do meu coração gelado e pesado que segue intenso, caso você queira sentir junto comigo.
um beijo e até a próxima vez em que meu coração disser que eu devo falar. :)