Maltine do bairro #2 - Um pouco de confusão às vezes acontece
Essa semana eu me peguei sentindo sentimentos.
E isso pode parecer normal para um ser humano, ora bolas, mas a questão é que já faz alguns anos que eu não sinto nada. Nem coceirinha. Então, esse pequeno sinal de alguma coisa me fez entrar primeiro num estado de euforia - “opa! eu tô viva sim, eu ainda sou capaz de sentir” - e, depois, bem rapidamente, numa espiral descendente rumo à fossa, já que eu não estou num bom momento da vida, veja bem, e as coisas geralmente são intensas por aqui. Enfim, uma decepção atrás da outra, quando já bem confusa com tudo que estava acontecendo, abri o app cor-de-rosa que avisa o andamento do nosso ciclo e descobri: estou sofrendo de TPM aguda. Faz sentido.
Essa newsletter quase não aconteceu, tem muita coisa perturbando a minha cabeça doida no momento. Mas eu vou perseverar e vocês já me perdoem de antemão se não sair muito legal. Eu também não tô.
Comecei a última news falando de como as vidas perfeitas e caricatas das redes sociais estão tornando esse ambiente sufocante e tóxico pra mim. E não é que a minha leitura foi justamente sobre um blogueira/it girl que vive o dilema de não poder ser quem ela é de verdade em função da sua profissão? Daí que ela acha que finalmente encontrou uma amiga de verdade, em quem pode confiar, apenas pra descobrir que… bom, não é bem assim. Tô falando de Snotgirl, quadrinho do Brian Lee O’malley (que muita gente conhece do Scott Pilgrim!) com a Leslie Hung, cujo primeiro volume chegou aqui no Brasil recentemente como Garota-ranho. É: a protagonista, Lottie, é uma famosa blogueira de moda que tem sérios problemas alérgicos e, por isso, se não toma seus remédios… Fica toda cagada. Aí a médica dela entra numa licença misteriosa, o médico novo resolve inserir uma medicação experimental e a coisa vira ladeira abaixo.
A arte da Leslie Hung é maravilhosa, eu tô embasbacada. Já acompanhava ela no instagram, mas nossa… Não tinha noção da dimensão da beleza desse quadrinho. A história: Brian Lee O’malley é um queridinho meu por conta de Seconds (falei dele no blog do Indiretas do bem) e Lost At Sea. Se eu tivesse lido apenas o Vol. 1 de Snotgirl, provavelmente não estaria aqui elogiando. Mesmo depois de ter terminado o Vol. 2, eu ainda estava um pouco confusa, pra dizer a verdade. Mas me diverti tanto! Então nós temos um quadrinho que é visualmente maravilhoso, com personagens que eu adorei porque ilustram muito bem essa geração de influencers que conheço bem de perto, só que com stalkers, crimes, fantasmas e delírios. É uma junção de coisas legais, só não tenho muita certeza de que faz sentido. Precisa? O famoso “Odiei, 5 estrelas”. Mentira, eu gostei. Tanto que tô aqui falando a respeito. E tem mais: não vejo a hora do Vol. 3 sair. Talvez eu seja meio masoquista, talvez só curta ser transportada pra universos mais caóticos que o meu. Se você curte caos e fofocas e intrigas e um suspense com pitadas de humor e crítica social, vai que é sucesso.
“Querido, me escuta, pela primeira e última vez, me escuta. Você não pode fugir do que está nas tuas vísceras, não pode fugir de si mesmo. Vai acabar louco, amarrado, infeliz em algum canto, se balançando e se arrependendo da sua vida de merda. Vai acabar sem nada, sem ter onde morrer, sem filhos, sem herança, sem vida, sem legado e sem amor. Sem amor. Teu maior medo é ficar sem amor, e no entanto é assim que tem vivido. Sem amor. Nega o amor que tentam te dar por medo de perdê-lo. Medroso, confuso, perdido no mar de mentiras que criou para se enganar. Nunca vi ninguém se enganar como você. E consegue enganar aos outros também, tão fáceis e manipuláveis que são. Só assim o engano se completa. Você precisa dos outros, teme críticas, preza opiniões dos inúteis e dispensáveis, que mantém à sua volta só porque precisa ser louvado o tempo todo. Cuidado com o louvor, meu querido."
Cuidado com o louvor.
Esse trecho aí em cima é do livro Vida de Gato, da Clara Averbuck, que ela me deu em julho de 2015, numa noite especial, e que foi muito importante pra mim naquele momento - super difícil - que eu tava vivendo. Ele apareceu nas minhas memórias do Facebook essa semana e eu achei que devia compartilhar, porque sei lá, tem certas coisas que marcam a gente por muito mais tempo do que se imagina. Esse livro é uma delas, e eu acho que você talvez vá gostar de ler.
E porque o assunto da semana, curiosamente, tem a ver com ela. Na última vez que encontrei a Clara, estávamos numa mesa conversando sobre não ter coragem de ver The Handmaids Tale, essa distopia tão próxima da nossa realidade, e ela me recomendou Good Girls, uma série protagonizada por três mulheres fortes e divertidas. Por sorte, a série entrou logo em seguida para o catálogo da Netflix - e antes mesmo que eu tivesse tempo de ver, minha irmã já tinha zerado também e insistia: VOCÊ PRECISA ASSISTIR ISSO.
Confesso que já tinha ouvido falar dela pelo Instagram da Mae Whitman, só não tinha associado ao nome ainda, mas aí é que está. Estamos falando de um elenco maravilhoso que funciona muito bem. Mulheres ferradas (como nós) e incríveis (como nós também) dando um jeito na vida (nesse caso, eu não diria que como nós. Pelo menos não como eu, hahahaha). Basicamente, três donas de casa com diferentes dramas domésticos, precisando muito de dinheiro, acabam indo parar no mundo do crime de uma maneira que nem elas esperavam.
Obviamente eu não vou contar como aqui, senão tiro a graça toda pra você. Mas o que eu posso adiantar: você vai encontrar mulheres que se ajudam (se atrapalham também), enfrentam as tretas todas da vida e se reinventam. Eu dei risada várias, várias vezes. Em algumas, do humor, em outras, do nonsense. E tem a tensão sexual que dá pra cortar no ar quando a personagem da Christina Hendricks e do Manny Montana contracenam.
Tinha esquecido de mencionar isso: Christina Hendricks. É. <3
Enfim, foi um respiro ótimo na minha vida meio doida e eu vou ser obrigada a entrar no coro: assista Good Girls, é legal demais.
Mas não é que, apesar de tudo, contrariando as minhas próprias língua e expectativa, eu acabei, sim, assistindo The Handmaids Tale? E foi logo depois de Good Girls. Acontece que a Thai, que tem um podcast sobre séries chamado Sete e Quinze, me chamou pra gravar um episódio especial e eu topei a aventura. Acho que era o empurrão que me faltava pra parar de adiar, sabe? Afinal, "não poderia ser tão cruel assim", eu supus.
Pois é: quando dizia que não tinha coragem de assistir, meus amigos, ainda assim eu não tinha a menor noção do quão brutal essa série poderia ser. Aliás, se tem uma coisa que ficou clara pra mim foi que os criadores perceberam que a brutalidade funcionava durante a primeira temporada (impecável) e resolveram transformá-la em linguagem e regra na segunda, o que tornou tudo meio repetitivo, mas mais que isso, são cenas de uma violência física e psicológica de embrulhar o estômago e de fazer você querer parar de ver no meio, muitas vezes.
O medo maior é a identificação. É ser mulher e saber que tudo aquilo que chamam de distopia ali é na verdade real, sim, e tão próximo de nós.
Divago. No fim, acabamos não conseguindo gravar o podcast essa semana, e deu tempo de começar a ler o livro que deu origem à série também - O Conto da Aia, da Margaret Atwood. Eu tenho tanta coisa pra falar a respeito de THT que não cabe nessa newsletter de hoje. Até porque não quero encher sua caixa de entrada de spoilers.
Mas quero saber: Você já assistiu? O que achou do fim da segunda temporada?
O que sentiu quanto a mudança de clima entre a primeira e a segunda?
(Sim, eu fiquei irada. Especialmente com o season finale)
Me conta aí. A gente fala mais depois. Eu prometo.
Terminei a série, mas não conseguia parar de pensar nela. E aí, meu escape foi desenhar um pouco. Aliás, não usava lápis de cor desde a escola. Não sou muito fã de colorir, a ansiedade dificulta muito pra mim! No curso de desenho, anos atrás, no módulo de Composição Cromática, a gente aprendia com guache. Foi o momento de maior agonia da minha vida. Meu professor, o Shibao, dizia: "Calma, Ariane!", "Tenha paciência", "Espere a tinta secar", "Fique tranquila", e eu só queria berrar "MEU DEUS, EU NUNCA ESTIVE TÃO TRANQUILA QUANTO ESTOU AGORA, ISSO SOU EU CALMA!!!".
Pois é, infelizmente eu sou acelerada demais, ansiosa demais e acabo preferindo não usar cores porque meu reflexo imediato depois de começar a pintar é rasgar e jogar fora lamentando que arruinei o desenho... Colorir é um processo lento. E eu amo preto e branco, pra ser bem sincera. Mas se eu nunca tentar, nunca vou lidar bem mesmo. Então esse fim de semana aproveitei que fiquei de molho e experimentei uns rabiscos coloridos, postei lá no instagram. Até que gostei? Vou praticar mais. E mais. E mais. Sempre bom quando a gente consegue produzir alguma coisa, ainda mais depois de meses lutando com um bloqueio feroz.
Queria escrever mais, mas já tá muito grande.
E eu também tô cheia de hormônios e problemas malucos na cabeça, então tá difícil fazer sentido. Pra falar a verdade, ainda tô me empenhando muito em não sentir sentimentos. Nada contra sentir, tá? Inclusive adoro. Mas nem sempre vale a pena. Tenho terapia mais tarde, quem sabe alivia?
Amei todo mundo que me respondeu! Obrigada mesmo.
Ainda não terminei de responder os e-mails porque descobri que nem todos tinham ido lá pra minha caixa de entrada, mas nossa, que abraço gostoso que foi ler cada um. Vamos continuar. Aceito sugestões, viu? De filmes, livros, passeios, assuntos, conselhos. Tudo. :)
Enquanto eu não volto por aqui, sempre podemos nos falar pelo Twitter e pelo Instagram.
Beijo <3