Maltine do Bairro #20 - A verdade demora mas chega sempre sem avisar
eu quero saber como você está.
se as coisas estão melhores, se o foco voltou. quero saber que música você ouviu hoje e o que te fez sentir, quantos cigarros você negou antes de decidir que não ia parar de fumar. quantas vezes você rabiscou algo, o que comeu no quilo. eu quero sentir que você está perto, e está bem.
eu quero ouvir sua voz.
saborear seu sotaque e todas as imitações que você faz ao longo do dia só pra deixar a conversa mais divertida, mesmo que não dê pra entender uma palavra do que você está falando. ficar com aquela música grudada na cabeça mesmo odiando do fundo da minha alma, só porque foi você que cantou.
eu quero te ver.
aquelas selfies estrategicamente tiradas ao longo do dia e que me preenchem com alegria e saudade ao mesmo tempo. sua boca perfeita, seus olhos tão falantes. e cada pedacinho do seu corpo, cada tatuagem que eu já sei de cor. eu quero te ver, além dos pixels, além daquilo que todos recebem, eu quero sentir seu cheiro e encostar na sua barba. quero que você deixe mais vezes sua marca em mim. quero dormir te olhando sonhar e acordar ao seu lado pronta pra tomar um café numa esquina qualquer.
eu quero pegar o primeiro avião na sua direção só pra dizer adeus. quero acreditar que o que é de verdade não acaba assim, que essa ausência não dói só aqui, que não foi tudo uma visão que só existiu dentro de mim.
mas querer não é poder, a gente aprende desde pequeno.
e eu fico aqui apalpando o vazio e vomitando distrações pra não pensar em tudo que eu queria estar compartilhando com você. mesmo quando nada acontece.
eu quero, mas você não quer.
e tudo segue no mesmo lugar, mas o mundo parece tão diferente.
hoje eu acordei com diga - pt 2 na cabeça. sem parar. e aí fui ouvir, porque só assim mesmo pra esquecer. o que foi bom, porque lembrei que dia 22 a fresno lançou o “NATUREZA CAOS - LIVE” e já comecei o dia no embalo desse discão ao vivo. recomendo.
esse fim de semana eu estive no meu primeiro bloco de carnaval. e no segundo também. e daí ladeira abaixo, porque federico me chamou pra outro no sábado que vem, combinei com os meninos de ir ao bloco emo na segunda, e assim seguimos nesse ritmo completamente oposto a tudo que vivi nos últimos tempos. de onde to tirando pique?
(na verdade eu sei que estou ciclando, daí a energia, e que sair é uma espécie de escape de tudo que tem me acontecido. se eu não to em casa, eu não to ocupada sofrendo. e isso me preocupa um pouco, porque antes ficar em casa sozinha era minha coisa favorita. e não sofria. não doía. não causava ansiedade. mas quer saber? EU VOU APROVEITAR A BRISA.)
enfim: sábado teve POP COMO TE GUSTA, o bloco do Papel Pop, e foi como se eu tivesse em casa (sendo minha casa o topo de um trio elétrico no centro de São Paulo com uma MULTIDÃO em volta, mas beleza). só amigos e gente querida demais. só amor. eu abracei a Iza, sabe? e andei um monte na hora de ir embora (graças aos céus tava com Matheus, Paty e Marina), a ponto de pensar que não tinha mais perna. tomei chuva, fiquei sem bateria. achei que nunca mais fosse levantar da cama quando cheguei em casa.
estava enganada, pois no dia seguinte eu não apenas levantei como tomei um banho e às 10h de domingo já estava a caminho do FALL OUT BLOCO. tinha combinado com a Bruna e não ia vacilar! força, guerreira! o que eu não sabia é que amaria tanto. agora imagine um espaço seguro, com as músicas que você ouve todos os dias (desculpa, galera da nostalgia Emo, aqui a vibe nunca acabou). reencontrei migos, conheci gente nova e incrível, dancei, pulei, ri da história do falso hanson, abracei o Caco e o Pelanza e terminei o dia comendo hambúrguer e depois desabafando com o Paulo no uber.
não dá pra manter o coração pesado enquanto se está vivendo essas coisas.
o problema é quando elas vão embora.
segunda-feira eu acordei sem ressaca física (ok, alguma dor no corpo eu to sentindo até agora, tenho quase 30 anos, o pique não é o mesmo - e eu nunca fui de muito pique). mas a ressaca mental... nossa. parece que todos os pensamentos e sentimentos que deixei reprimidos no fds enquanto me ocupava de viver o carnaval voltaram como uma cachoeira na minha cabeça.
e aí foi crise de ansiedade o dia todo e eu me segurando pra ser racional e não ir atrás de mais problemas. e ao mesmo tempo, tentando trabalhar e pensando nas contas pra pagar e na vida que não tá ajudando. em resumo, mais motivos pra me estressar e causar ansiedade. rs
passei mais da metade do dia paralisada. passando muito mal.
o bom é que passa. eu sei que passa. e o melhor vem depois.
quase não assisti nada de novo na última semana porque nós gravamos três episódios do podcast, to com varias ilustras de umas estampas em processo, tive job externo, as aulas da Quanta voltaram, em resumo.
na última semana eu também tive contratempos do coração após enviar minha newsletter e jurei pra mim mesma que ia encerrá-la por um tempo porque né, não tem condições de escrever pra ficar bem e acabar sofrendo mais ainda por conta do que escrevi. rs
SÓ QUE nessa madrugada lembrei que está rolando uma interação tão gostosa, um diálogo tão incrível por aqui. não vale a pena abrir mão disso por algo que simplesmente estava fadado a não ser e só precisou da minha voz pra chegar ao fim.
então to aqui escrevendo, meio que sem muito sentido, só pra pontuar que estou viva e que a sensação mesmo eu uma hora volto pra contar.
ah! ontem à noite assisti Bohemian Rhapsody no Vivo Play e descobri o porquê da animosidade geral diante das vitórias no Oscar. é ok, mas né?
essa semana começa meu inferno astral.
cheguei a achar que o silêncio valeria mais, mas as vozes de dentro não param. elas vêm do mais fundo do estômago, reviram no peito e roubam o pouco ar que ainda consigo respirar. elas me fazem sentir refém da minha própria ideia de liberdade: o que seria, então, ser livre, se quando escolho o que o coração manda, é pra me pegar aprisionada entre as necessidades e limitações de alguém?
será que é liberdade esse meu eterno ir e vir e o anseio de sair, de me anestesiar, de me cercar de gente só pra não pensar em nós?
eu topo com as lembranças leves, a primeira vez que te vi da janelinha do uber e quase não tive forças pra descer, a fila do prédio no centro da cidade, os neons, o barulho ensurdecedor regado a uísque, a fuga pra augusta, as horas dividindo beijos e o gosto do seu cigarro de menta misturado com a minha cerveja. o retorno de jedi na TV, cada tatuagem sua que eu pude tocar. parece tudo tão distante, e faz só um mês.
lembro de você dormindo com a cabeça reclinada no meu pescoço. quando descansou ao meu lado na cama. e todas as horas de conversa que vieram antes e depois. as músicas compartilhadas quando silêncio algum parecia incômodo.
vi as flores murcharem com o tempo. a cada banho eu vivia a lembrança do seu beijo naquele chuveiro. recriei na minha mente todos os erros que posso ter cometido. todos os que sei que cometi e não consertei.
no meio do ciclone, as saudades passaram a ser respondidas com interjeições e entendi que ia vir logo um adeus. ele veio. Como todas as outras ondas inevitáveis da vida, como em tantos outros aspectos em que você não estava presente, o ciclone me consumiu e eu não consegui nem pedir socorro.
você acendeu em mim uma luz que acreditava já estar queimada — e é graças a ela que hoje enxergo com clareza que estou viva, e que não é de todo ruim. todos os dias acordei sentindo sua falta, mas é só agora que sei que você não vem que o peso da solidão tem me esmagado de dentro pra fora.
tudo isso porque estou viva. e eu sinto.
ficou a conta da saudade na minha mão. o céu escuro pré-tempestade. o glitter, o suor, as cervejas. o gosto do seu cigarro de menta.
eu não preciso de você, mas eu te quero tanto. eu te quis tanto. e é provavelmente por isso que você se foi.
espero que ao menos você seja feliz.
assim encerro a carta da semana! na próxima espero que já tenhamos enfiado uma rolha nesse poço pra eu não cair lá no fundo nunca mais.
beijos