Maltine do Bairro #21 - você foi meu carnaval
já estava vivendo o Carnaval (o oficial, não o meu) há algumas semanas, e se tem uma palavra que vou usar até o fim pra definir a minha primeira experiência nessa festa toda é que ela foi intensa.
primeiro teve a VHS. aí carnauol. pop como te gusta. fall out bloco. tarado ni você. blocos e ruas e bocas e encontros que eu não imaginava. acima de tudo, meu Carnaval foi feito de pessoas incríveis, desde a re, que topou passar chuva e perrengue comigo pra ver banda Eva, passando pelas amizades novas e antigas que encontrei na jornada dupla de pré-carnaval, até os amigos que, cansados como eu, abdicaram no meio do caminho da movimentação das ruas e ficaram em casa comigo jogando hearthstone e imagem e ação.
fevereiro e março foram incríveis. eu saí da toca, abri meu coração, deixei gente entrar, eu arrisquei. não muito, também. eu me machuquei sozinha, caí de cara algumas vezes, perdi o senso e pesei a mão. ah! catuaba é a prova de que ainda me resta algum amor próprio: eu que não deixo um negócio desse habitar meu corpo. rs
mas de que adianta não deixar a catuaba habitar meu corpo, se deixo tantos sentimentos ruins e mais tóxicos que ela tomarem conta de mim?
carrego tantas culpas que não saberia nem por onde começar a listar. culpas que pesam, que seguram, que limitam e doem demais.
cada vez que tento externalizar algo elas parecem aumentar. eu erro inconscientemente e depois me esqueço. e aí, quando a memória vem, eu me faço em pedaços pra tentar consertar tudo que quebrei pelo caminho.
eu sou um peso que eu não queria ser.
e sei que não posso passar a vida pedindo desculpas. sei que muito que passa pela nossa vida simplesmente não era pra ser. sei que é pretensão achar que deixei marcas em alguém, sejam elas boas ou ruins. que tenho o poder de botar alguém pra cima ou pra baixo. mas o impulso é sempre de voltar atrás, de aparar as arestas, de pedir perdão. fico impressionada com a minha habilidade de destruir os sentimentos bons (meus e dos outros) com uma velocidade alucinante.
isso me mata aos poucos. bem aos poucos. de forma dolorosa. todos os dias.
queria não perder pessoas que me fazem tão bem. queria poder mandar uma mensagem dizendo o quanto ele é incrível e especial. queria que todo mundo soubesse, assim como eu sei, que o fato das coisas não terem se encaminhado como eu gostaria não quer dizer que nenhum de nós seja ruim. o quanto já briguei pra defender isso. mas não importa. não importa o quanto quem estava de fora tenha interferido. acabou, e não foi bem. e eu preciso lidar com isso.
mas vou estar aqui se um dia isso não incomodar mais.
na última quinta foi ao ar o episódio sobre responsabilidade emocional que gravamos pro Exaustos. é um episódio legal. tem muita gente gostando, muita gente compartilhando. amei fazer porque procurei as opiniões de pessoas diferentes demais antes de gravar.
acontece que parei pra ouvir depois e só consegui sentir que em 2019 nada disso funcionou na minha vida. que às vezes tentar ter responsabilidade emocional acaba fazendo a gente agir exatamente ao contrário. ou que eu sou um lixão de ser humano, tem essa possibilidade também.
e agora que já estamos em março e que oficialmente não tem mais nada de bom rolando na minha vida, me sinto no direito de querer me fechar de novo, só mais um pouquinho.
porque todo Carnaval acaba, cedo ou tarde. e o meu foi incrível, e aconteceu bem antes dos festejos oficiais. mas a quarta é de cinzas, e cinza as coisas seguem.
talvez eu nunca sinta exatamente que eu pertença.
existe algo de muito louco e muito íntimo acontecendo o tempo todo e eu vivo nesse transe maluco, sabe? tenho fases, como a lua (desde criança, inclusive, esse poema da cecília meireles é meu favorito). e às vezes sou parte do mundo, às vezes sou invisível, fechada, um tanto só minha. sempre foi assim.
acontece que, quando eu volto a habitar o mundo, as palavras jorram. os sentimentos também. eu abro as portas para a vida e para quem pedir licença. estremeço a cada mudança, vibro de verdade. transbordo, e as pessoas não estão acostumadas a verem ninguém transbordar. talvez eu ocupe muito espaço. é minha natureza, mas não quer dizer que me acostume a ela.
eu odeio ocupar espaço.
talvez não me ame tanto quanto faço parecer.
talvez seja uma farsa tudo que vivi até aqui.
e encontrei numa troca de emails antiga com a ryane algo que define eternamente esse meu sentimento de não pertencer, de não servir pra viver a dois, de fugir do coletivo.
eu sei que sozinha é difícil, mas pelo menos sei que quem me machuca sou eu. sei que não machuco ninguém. sou um inimigo que não escolho. de quem sempre espero o pior. com os outros ainda caio na inocência de esperar coisas boas.
eu caio na armadilha de criar expectativas. na rotina de escrever e publicar e destruir tudo que possa haver de bom. de não saber até que ponto é arte, natureza ou irresponsabilidade.
eu não sou de chorar, por piores que as coisas estejam.
e ultimamente elas andavam ruins. eu estava me sentindo ENTUPIDA mesmo, sabe?
sabe quando você quer a todo custo esvaziar e o choro não sai, só fica ali como se a Elsa de Frozen estivesse assoprando seu estômago e pulando em cima do gelo depois enquanto elefantes pisoteiam seu peito?
então fiz o meu TREAT YO SELF no domingo à noite: entrei no carro com a minha irmã e fomos ao cinema ver filme de cachorrinho. como vocês sabem, a única função social dos filmes de cachorro é fazer a gente chorar. os desgraçados fazem tudo de caso pensado. a trilha. a história nonsense. a sequência de desgraças. é tudo pra gente se desfazer na moralzinha ali na sala olhando pra tela.
e eu fui, eu vi, eu achei nonsense e chorei mesmo assim.
obrigada por cumprir seu propósito, “a caminho de casa”.
na segunda os meninos vieram aqui em casa e assistimos “Como Falar com Garotas em Festas”, filme inspirado no conto do Neil Gaiman e que agora está disponível na Netflix. amei demais a forma como o filme mostra a história, a ambientação, o clima, o figurino, a trilha. o negócio é incrível demais, vejam por favor. não tem condições.
eu sigo aqui pensando e desejando desligar esses pensamentos ao mesmo tempo.
mas eles vêm. e eles ficam.
como será que você está agora que o carnaval acabou?
eu só espero que esteja bem.
que as dores físicas tenham passado, e as outras diminuam cada vez mais.
eu quero que o mundo possa conhecer a pessoa incrível por quem me apaixonei.
mesmo sabendo que não vai ser ao meu lado.
será que a luz no seu olhar ainda é a mesma?
que a vontade de sair e fazer loucuras continua?
pra quem é que você manda mensagem quando a noite chega?
será que você ainda aplaca o peso do passado e do futuro tentando se anestesiar?
será que eu fui só uma droga no seu caminho?
o carnaval chegou ao fim, as desculpas também. eu beijei tantas bocas procurando o encaixe da sua. agora é hora de parar e entender que não faz sentido buscar o que passou.
foi lindo. e acabou.
você foi meu carnaval.
foi luz, brilho, alegria.
e foi embora.