maltine do bairro #27 - exausta
de todos os clichês que não aguento mais ouvir, o que ecoou na mente nas últimas madrugadas foi “a gente precisa se perder pra se encontrar”. eu me perco, me perco, me perco e não encontro coisa nenhuma. todos os dias me vejo mais longe da mulher que gostava de ser. ou será que ela só existiu na minha cabeça? a essa altura eu já nem sei mais o que imaginei e o que de fato vivi.
só sei que, honestamente, estou bem cansada de me sentir um lixo sem ser um lixo - e de, eventualmente, me tornar um lixo por me sentir um lixo o tempo todo.
faz sentido pra você?
tudo bem se não fizer.
pra mim faz todo o sentido. e no momento é isso que importa.
nesse período longe das cartinhas, vi e vivi coisas incríveis. um amigo se casou - foi um dos dias mais lindos do ano, talvez da vida, ali, ao lado de tanta gente que gosto de verdade. e isso é algo que preciso agradecer: tem muita gente especial ao meu redor. gente que prova todos os dias que me quer por perto - e isso não tem preço.
nunca tinha ido a um casamento LGBT (possivelmente porque poucos amigos se casaram, já que quase todos são LGBT, hahaha). pra mim é poderoso demais, especialmente em tempos tão sombrios, ver o amor sendo celebrado com as famílias presentes e felizes como vi naquele dia. já completou um mês e ainda estou processando muita coisa. a cerimônia. o discurso. chorei demais, chorei feio, mas foi de amor. e é o amor que tem me trazido pra frente, homeopaticamente, bem devagarinho.
então eu deixo aqui o lembrete pra você aproveitar o amor que você tem por perto ao máximo. não guarda não. divide. 🖤
encontrei um vídeo oculto no meu canal do YouTube em que explico o porquê da ausência: a depressão, o TAB, as idas e vindas e os tratamentos e dificuldades, o peito aberto sobre como é difícil lidar criativamente com isso.
foi tão estranho olhar a Ariane do passado falando sobre algo que a Ariane do presente tem vivido e sequer lembrava que já via com tanta clareza faz tempo. sempre acho que estou descobrindo as coisas, que estou me conhecendo, mas muito já percebi, já desbravei e apenas tenho reencontrado. meio tipo aquela série que a gente assiste mexendo no celular e, quando vê de novo, se espanta como se fosse a primeira vez. como é que se esquece coisas tão marcantes? eu aposto na tentativa de não viver em função da dor.
mas é aquela coisa, né... a dor taí pra ser vivida, como todo o resto.
:(
quando soube que o Jão tinha histórias de um amor que não deu certo pra compartilhar em forma de álbum, fiquei feliz (desculpa, Jão), porque me senti menos sozinha. e, como imaginava, ANTI-HERÓI foi perfeito. cada faixa veio pra abraçar minha versão de coração partido e remendado e validar meus sentimentos de quem já se apaixonou tantas vezes por alguéns que não estavam tão afim assim.
tá todo mundo falando de VSF, mas as minhas faixas favoritas são “triste pra sempre” e “:(“. nenhuma outra música me resume tão bem hoje. se você não ouviu ainda, dê uma chance. é aquele álbum de chorar no banho ou experimentar deitadinho no escuro. pra mim funcionou bem assim, pelo menos.
ele teve um timing preciso também porque estou de novo numa daquelas fases em me questiono o que diabos estou fazendo nesse planeta, em termos abrangentes. na seara dos relacionamentos então, meu amigo, o chicotinho estrala forte. tem algo em mim que tem certeza que aquela frase (que julgo absurdamente imbecil, perdoem dizer) “há pessoas que são a viagem e não o destino” foi dita pensando em mim (presunçoso também, eu sei). às vezes sinto que sou a porra do barquinho que as pessoas pegam em direção aos amores de suas vidas.
e que bom que essas pessoas encontram amor (de verdade!), que bom que são capazes de se perdoar e de encontrar refúgio umas nas outras e que, no intervalo em que estão distantes, ainda assim tem afeto. mas precisa ser o meu afeto o transitório, sempre? é só pra isso que ele serve?
que vibração é essa que estou mandando pro mundo que sempre me traz o mesmo perfil de pessoas: apaixonadas por alguém que não sou eu, com relacionamentos mal resolvidos para os quais desejam voltar? quando vou receber um afeto que seja legitimamente meu, sem que me ocorra o doloroso “em quem você pensa enquanto me beija?” tocando de trilha, hein?
essa e tantas outras questões, na próxima sessão da terapia.
(infelizmente não tive terapia desde que ouvi esse álbum. relevem o surto. tem dias em que a carência afeta os poucos neurônios que ainda não morreram)
recentemente mergulhei em Ryan Murphy pra anestesiar o que de pior há em mim, porque é a vida, a gente sente e precisa lidar, e sinceramente tem algumas vezes em que o único jeito de lidar é não lidando.
Ryan Murphy é o que eu chamo de meu lugar de conforto: as produções dele me levam pra uma área de melancolia e felicidade, uma tristeza gostosa, quase que familiar. tem muito a ver com a época em que vi algo dele pela primeira vez e como me sentia naquele tempo, também. quando maratono Glee, quando sofro com todos aqueles clichês (que convenhamos, nem envelheceram tão bem assim), é como se eu estivesse abraçadinha no meu sofá, de volta aos meus vinte e pouquíssimos. foi isso que experimentei nos últimos meses.
além de rever Glee, vi American Crime Story: The Assassination of Gianni Versace pela primeira vez (sim, fiquei adiando para não ficar sem, tenho dessas coisas). achei incrível - o mood, a paleta de cores, o fato de ser muito menos sobre Gianni Versace. o que eu amo em ACS é que você já sabe o desfecho da história, sabe que é real, mas se pega quase sempre empatizando com o bandido. acho que tem um pouco da essência do AHS, sabe? all monsters are human.
no meio dessa maratona maluca, uma surpresa boa: fui convidada para o evento de lançamento de The Politician, a série que estreou na Netflix no último mês. por alguns minutos da minha vida, surtei imaginando que Ryan Murphy himself viria pra cá e eu iria conhecê-lo (fonte? Arial 12), o que depois descobri ser apenas uma doce ilusão. o evento foi perfeito mesmo assim: o Palácio Tangará foi ambientado para remeter ao mood da série - quem assistiu sabe, corre lá pra ver: Gwyneth Paltrow está perfeita, Jessica Lange segue maníaca como amamos e tem Bette Midler e Judith Light prometendo uma segunda temporada quentíssima. Vimos o primeiro episódio antes do lançamento, Ben Platt estava bem pertinho de mim. Por algumas horas no meio de uma semana aleatória de setembro, me senti rica e sem nenhum problema na vida.
agora, só pra finalizar esse meu momento Ryan Murphy, gostaria de dizer que não existem mais lágrimas pra chorar depois das duas temporadas de POSE. se você ainda não viu essa série, faça um favor a si mesmo e assista - a primeira já está disponível na Netflix, inclusive, não tem nem desculpa. Pose é ambientada na NYC do final dos anos 80, auge da “epidemia de aids”, e protagonizada por mulheres negras, latinas e transexuais. aliás, é a série com o maior elenco trans da história. são histórias lindas sobre aceitação, sobre família... tudo isso com um visual maravilhoso e uma trilha sonora que, bom... Ryan Murphy, sabe. é amor e, como eu disse, se tem algo me salvando nos últimos tempos, é o amor.
(PS: você tá vendo American Horror Story: 1984? porque não to crendo nessa temporada. estou dividida entre não estou entendendo mais nada e puta merda não é possível que seja isso. ALIÁS, Leslie Grossman protagonista: NINGUÉM PEDIU. se em algum momento eu disse que Ryan Murphy nunca errou, eu retiro nesse momento pois QUE ERRO, EU NÃO SUPORTO ESTA MULHER, É MUITO RUIM A ATUAÇÃO, mesmo pros padrões da série. mas sigo assistindo fielmente toda semana mesmo se ele surgir com um plo twist do tipo “o segredo da cabana”, pois gado demais.)
desculpe a verborragia. passei um tempão longe e de repente voltar fez muito sentido. tanta coisa pra compartilhar, sei lá.
aliás, não se esqueçam de ir ao cinema ver Malévola 2 para odiar a princesa Aurora comigo.
tá tudo bem por aí?
eu realmente sinto falta da nossa troca de e-mails.
beijo,