Maltine do Bairro #29 ~ pandemônio antes dos 30
(ainda bem que não sou narcisista, senão poderia, sei lá, colocar essa pandemia na conta do meu inferno astral e transformar uma crise global em algo sobre mim. hahaha)
tô há meses sem escrever e quando isso acontece você já sabe, né, é porque as coisas estão tão péssimas que mal consigo elaborar uma piadinha ruim como a do parágrafo acima pra rir da desgraça e seguir. mas faltam sete dias para o meu aniversário de trinta anos, o país e o mundo estão de quarentena por conta de um vírus que se espalha rápido demais, e achei que talvez fosse o momento de passar aqui pra checar como você está.
e aí, como andam as coisas - desconsiderando esse cenário apocalíptico?
em termos práticos, minha rotina não mudou absolutamente nada com esse distanciamento sugerido para controlar o COVID-19. nos últimos meses minha depressão piorou e ando tão isolada do mundo que já cheguei de novo naquela fase em que os amigos nem se esforçam mais pra tentar contato, então distanciamento social já pratico faz tempo.
mas tudo mudou na esfera invisível. em termos psicológicos tá foda, porque todo o ambiente que costuma me distrair pra que eu não surte tanto (oi, internet) está completamente alterado e a ansiedade não tá se permitindo calar. o peso das coisas parece maior, os pensamentos invasivos começam a ficar altos demais. chega uma hora em que a gente não consegue mais racionalizar com tanta clareza, infelizmente. vida que segue, que tudo passa.
estava apavorada com a ideia de fazer trinta anos e não conseguia entender o porquê, já que nunca liguei muito pra aniversários. aí me dei conta de que, ao longo da vida, me prometi muitas coisas botando na conta dos trinta, meio que na esperança de ter muito tempo pela frente pra fazê-las. e, de repente, eles chegaram e ainda não realizei nem metade.
(sei lá, pra mim os anos 80 sempre serão 20 anos atrás. mas aí paro pra pensar e, na verdade, já é quase o dobro. O QUE ESTÁ ACONTECENDO?)
estava preocupada em organizar uma festa, mesmo drama de todo ano, mas agora só se for festa do fim do mundo via LIVE do Instagram. então parei pra pensar no tanto de coisas que já alcancei e sequer tinha planejado, pra sair um pouco da paranoia nesses dias em que a sombra dos trinta anos está pairando como se fosse algo anormal sobre a minha cabeça. no fim, como em todas as outras vezes, o aniversário é só um marco arbitrário, só mais um ano, virou, passou e ninguém de fato se importa porque outro instantaneamente começa sem tirar nada do lugar. sim, segue tudo igual.
falo com naturalidade sobre as pessoas terem se distanciado (ou aceitado que eu me distanciasse), mas na verdade isso me machuca pra caralho. é algo que ainda estou trabalhando e honestamente haja terapia pra não sofrer com esse abandono que nunca sei de que lado começa, mas que é um gatilho maluco pra culpa de não ser boa o suficiente para as pessoas que eu amo e UHHHHH entramos na espiral do desespero e da autossabotagem nos relacionamentos.
quanto pior eu fico, menos mensagens eu respondo, menos eu saio. mas sigo observando as coisas e sentindo falta das pessoas mesmo não querendo ninguém por perto. é doido. e quando vejo, por exemplo, pessoas que eu amo se aproximando de pessoas que me machucaram, eu me culpo demais por deixar elas irem, mas sinto que é tarde e que mereço isso. acabar sozinha.
infelizmente, até a terapia tá em falta nesse momento crítico.
apesar disso, viajei com minhas amigas incríveis para a praia esse mês. felizmente, antes disso tudo estourar e todo mundo se ver trancado em casa com medo do futuro eu tomei sol, banho de mar, chorei desabafando na beira da piscina e ganhei abraços apertados e declarações de amor pra vida - cenas que fico repetindo na minha memória agora que não posso sair pra ver ninguém.
esse ano desafiei minhas próprias ordens e comecei a ver Grey’s Anatomy em janeiro. sempre pensava “poxa, não preciso de algo pra me fazer chorar” - tenho uma imagem muito clara da minha irmã sempre chorando de soluçar no quarto que dividíamos na casa dos meus pais na época em que a série começou.
pois bem, terminei essa semana. revoltada. devo ter chorado em, sei lá, três episódios de 357 (!!!). mas chorei. e fiz amigos e construí uma relação com os personagens e me tornei um pouco paranóica (de repente tudo que sinto me parece sintoma de tumor cerebral ou infarto).
é isto: se quiser ver entranhas, peito aberto, corações, cérebros e fígados, e gente com dramas absolutamente bizarros (e um hospital que parece amaldiçoado de tanta merda que acontece com quem trabalha lá), recomendo demais. já estou em abstinência da minha novelinha.
e vendo os 999 spin-offs dela, claro. primeiro foi o b-team e agora é private practice.
se você tá aí em casa vendo bbb e quer mais realities pra maratonar nessa quarentena, fica a dica de dar umas risadas com The Circle (na Netflix, tem a versão US e a versão BR); rever o De Férias Com o Ex Celebs (na Amazon Prime)... saiu um tal de Soltos em Floripa na Amazon mas MISERICÓRDIA, acho que o nonsense hetero foi longe demais nesse. não sei se aguento, volto no futuro com mais informações.
tenho um original pra entregar nos próximos meses e não estou conseguindo escrever no meio desse caos da minha vida, então tem isso.
e estamos sem gravar podcast porque Vito acha que a qualidade do áudio gravando cada um da sua casa será muito ruim, o que me deixa ainda mais sem chão porque o podcast é uma das poucas coisas, junto com a terapia, que mantém minha cabeça equilibrada e fora do meu mundinho de desespero.
talvez a news se apresente mais vezes na sua caixa de entrada por isso. vamos nos ajudando.
me conta o que tá te ajudando a distrair dessa situação maluca e desesperadora!
e não se esqueça: NÃO SAIA DE CASA, a menos que inevitável e essencial. e lave bem as mãos.
beijo