Maltine do bairro #3 - Tava ruim, tava bom, mas parece que piorou
Pra ser bem sincera, quando criei essa newsletter eu não tinha a menor ideia do que vinha pela frente. Faz três semanas que ela começou e, aqui de fora, parece uma eternidade. Tem muita, muita coisa me virando do avesso.
Poderia não escrever mais. Mas devo a mim mesma seguir sendo honesta mesmo quando estiver difícil. Foi por isso que comecei. E devo isso a você, também, que topou me acompanhar.
Por isso vou ser o mais honesta que consigo agora: não expor todas as feridas não as torna menores. Descobri esses dias.
Achei que enquanto pudesse guardar segredo, enquanto ninguém soubesse, enquanto algo não fosse dito em voz alta, então não seria verdade. Então ainda haveria tempo de voltar atrás, de fazer com que tudo magicamente desaparecesse. Mas não é assim que as coisas funcionam no mundo real. Elas simplesmente são. Algumas dores existem e vão existir não importa quantas pessoas saibam delas.
Fica mais fácil controlar quando não te lembram das suas feridas a cada segundo, é claro. Então resolvi não expor as minhas, ao menos por enquanto.
Mas torça por mim se puder.
É isso. Não dá pra fugir. Não dá pra se sentir menos vulnerável, solitária ou azarada às vezes. E fica difícil manter a pose diante de determinadas situações. O que gosto de acreditar é que, em algum tempo, vou olhar pra essas primeiras cartinhas e sorrir pensando “olha só. eu achava que era o fim... e passou”. Porque tudo passa. É isso que me dá forças.
E tem as coisas boas.
Por exemplo... Eu legitimamente não me recordava da sensação de ver de pertinho o show de alguém que curto desde novinha. Nos últimos anos, acabei me afastando de tudo, só estive em grandes festivais e shows de estádio. Estou falando da energia de estar perto do palco, num ambiente menor, só com gente que realmente curte aquela banda. É outro rolê. Foi isso que, uma década atrás, me fez apaixonar pela música. Aliás, não é exagero nenhum dizer: era isso que me mantinha apaixonada pela vida. E a Ariane que entrou sozinha no Fabrique no último sábado, com seu coturno e seu vestidinho preto, não imaginava que ia sair tão bem dali. Eu simplesmente já não lembrava de como isso me faz feliz.
Nem era pra estar lá, pra começo de conversa. Quando vi que o Slaves vinha pro cá, fiquei alucinada? Fiquei. Mas sabia que não tinha dinheiro nem ânimo pra ir a show sozinha esse ano, então deixei de lado. Só que a semana chegou, o Jonny Craig postou fotinho no Brasil e eu tive que publicar stories falando que queria ir. O universo atua de maneiras misteriosas? Sim. O Bruno viu e mostrou pro Leo que simplesmente disse “venha”? Sim. Fiquei feliz que deu certo? HAHAHAH FIQUEI MUITO.
Daí reuni forças e fui.
Ainda bem que fui.
O Jonny Craig. Ouço esse homem desde que eu tinha 16 anos. Dance Gavin Dance, Emarosa, Isles & Glaciers, Slaves. Solo. Todas as idas e vindas e os problemas com vício dele. A torcida aqui pra que tudo desse certo. Eu choro no banho pensando em Jonny Craig, sabe? É. Me deixa ser emo. Eu vi esse homem de pertinho. Ouvi essa voz foda ao vivo.
Eu não estava preparada para o que são os rolês independentes dessa geração ultraconectada. Seria só mais um dia normal se as minas que invadiam o palco não começassem a FAZER STORIES E SELFIES LÁ EM CIMA, AGARRADAS COM ELE (!!!) ENQUANTO ELE CANTAVA (!!!!!). E eu achando que loucos eram os caras que ficavam na multidão tirando foto e filmando o tempo inteiro, né? Hahahaha!
(To rindo, mas é de desespero.)
Os caras perto de mim estavam pistolíssimos. Eu, surpresa. É que, na minha adolescência, celular não fotografava. Não faz muito tempo, embora pareça uma eternidade. Isso de stories e vídeo e afins veio quando eu já tava louca demais pra ver alguma coisa. Depois envelheci e não saí mais de casa. Não tava preparada. Saí do show me sentindo uma senhora de 80 anos. Mas fazia tanto tempo que não me divertia tanto!
Fui uma senhora de 80 anos sozinha no meio de um público incrível cantando a plenos pulmões e sendo alucinadamente feliz.
Eu precisava disso.
Esperei passar a onda de pessoas amando e odiando em longos textões (que adorei ignorar) e finalmente parei pra assistir Samantha! na Netflix na última sexta-feira.
Se você nunca ouviu falar da série, explico: Samantha! é uma comédia nacional que brinca com as referências da nossa televisão na década de oitenta e com os memes da atualidade.
Basicamente, a maior estrela mirim brasileira dos anos 80 cresce e faz de tudo para se manter famosa hoje em dia. Cada episódio é recheado de personalidades e histórias que conhecemos, contadas de um jeitinho super divertido. Mal terminei, já corri pra indicar pra minha mãe e minha irmã. Não é aquela série excepcional, não - pelo amor, não me cobrem isso! É humor mesmo, cheio de nostalgia costurada com a linguagem da internet. E não precisou de muito mais que isso pra funcionar bem.
O elenco conta com Emanuelle Araújo, Daniel Furlan (sim, o Renan do Choque de Cultura), Douglas Silva... E já foi renovada para mais uma temporada. Enquanto isso, dá pra acompanhar as trapalhadas da Samantha! no instagram, outra bola dentro da Netflix.
Continuei sentindo sentimentos, óbvio.
Quis mandar uma mensagem, só uma, dizendo o quanto tudo me magoou. Mas talvez, me conhecendo bem, isso não fosse acabar nessa mensagem. O outro lado provavelmente iria se explicar, como qualquer pessoa faz. E eu, lendo as suas palavras, começaria a me sentir culpada por ter falado dos meus sentimentos.
Quem sou eu pra sentir qualquer coisa? A culpa é sempre minha ultimamente, segundo meu cérebro autodestrutivo. Então encontraria um motivo imbecil para me sentir mal por ter, antes de tudo, me interessado e permitido que alguém atravessasse minhas defesas. Um jeito de me convencer que todo o resto foi criado na minha cabeça. Que toda gentileza era só interesse fingido pra não criar conflito.
Ah, eu sei o que ia acontecer se eu mandasse essa mensagem. Passaria noites em claro pensando no que seria dito por aí, começando por “aquela louca...”.
Estou tão cansada de ser chamada de louca.
Então não disse nada. Desapareci, mais uma vez.
E o silêncio segue ensurdecedor.
Aconteceram outras coisas na semana, mas eu não tô sabendo nem enumerar, quem dirá botar em palavras. Aliás... Não desenhei, terminei de ler nem respondi nada essa semana. Me perdoa, tô completamente fora do eixo. Se você mandou algo, respondo em breve.
Se não mandou, tô esperando.
Sério.
Precisando de abracinhos.
Atrasei porque não tava rolando. Mas cheguei, né?
Enquanto não volto por aqui, sempre podemos nos falar pelo Twitter e pelo Instagram.
Até quinta, se tudo der certo.
Beijo <3