Maltine do bairro #4: Amigos e zumbis
Antes de tudo, preciso dar um aviso. Essa semana tá rolando Bienal do Livro e no dia 11 de agosto estarei lá no estande do Grupo Autêntica às 18h para sessão de autógrafos e abraços. Eles terão todos os nossos títulos (já são 6 livros e contando) e, bem, euzinha lá pleníssima e cheirosa esperando o carinho de quem puder ir. Se você estiver por SP, dá um pulo! É sempre bom demais viver esses reencontros. Temos chance de conversar, tirar foto, trocar aquele abraço e aquela confidência... E não é por nada não, mas o último livro que publicamos está LINDÃO.
Recado dado.
E já que estamos falando disso... Você tem algum livro por aí que está enrolando há um tempão pra terminar?
Eu estava com o Omnibus de iZombie começado e largado na prateleira há ANOS, só de enfeite mesmo. Apesar de morrer de curiosidade sobre a história do quadrinho, tenho uma preguiça condenável de livros grandes - é que eles são difíceis de manusear, de encontrar posição confortável pra ler. Geralmente resolvo isso lendo no Kindle, mas quadrinho não rola... Olha o nível de ridículo a que chega o ser humano quando quer procrastinar. Enfim: o tijolão estava largado lá, começado e sem perspectiva de terminar. Aí assisti aos quatro últimos episódios da 4ª temporada essa semana e, já em abstinência, pensei: É ISSO. VOU LER HOJE! E devorei tudo no domingo passado.
O que dizer dessa história que eu mal conhecia e já considero pacas? Amei demais.
A série e o quadrinho não tem muito a ver se você olhar superficialmente. Os personagens têm nomes, backgrounds e objetivos diferentes, e o livro tem muitos outros seres sobrenaturais além dos zumbis, o que é uma das diferenças mais divertidas entre os dois: enquanto na série falamos de um vírus que transforma as pessoas em zumbis, no livro isso é causado pelo caminho que a alma faz depois da morte - e aí a explicação para a existência não só dos zumbis, mas de fantasmas, vampiros, animais com almas humanas, humanos com almas de animais... enfim. É sobre as almas, resumidamente.
Mas a essência dos dois dialoga muito bem e ambas as narrativas são incríveis. A protagonista idealista que se descobre zumbi e que usa as visões que tem depois de comer os cérebros das pessoas para vingá-las ou solucionar os mistérios de suas mortes, que se importa demais com aqueles que devora e por isso adquire as características deles muito mais que o habitual quando sob influência do cérebro e, sobretudo, que sempre está disposta a se sacrificar para que os amigos fiquem bem.
Amizade é uma das coisas mais lindas que a gente acompanha nessa trama. Confesso que amo ainda mais iZombie agora que conheço o quadrinho - embora prefira a versão da TV (sou apaixonada por Ravi Chakrabati e Blaine Debeers, me processem). O ritmo dos gibis é meio lento, às vezes meio sem graça - é mais triste também, mais dark. Na TV, temos novas personalidades encenadas a cada episódio, um olhar de humor, personagens muito carismáticos... é um grupo de amigos que a gente consegue relacionar com os nossos.
Amigos.
Amigos são um assunto delicado pra mim. Minha frequência afetiva é muito baixa, tenho uma dificuldade grande de me manter presente na vida das pessoas que amo. Acompanho tudo pela internet e é como se estivéssemos próximos, mas no dia a dia mesmo eu não falo com absolutamente ninguém.
Também passei por algumas traições e decepções que fizeram com que fosse entrando num casulo, e de repente me vi tão, mas tão isolada que tinha a sensação que jamais conseguiria me encontrar de novo. É engraçado, porque as pessoas que me acompanham nas redes sociais sempre me veem acompanhada, sempre sorrindo e cercada de gente, e não acreditam quando digo isso, mas nos últimos três anos eu só saí de casa para trabalhar. Sempre encontrei nesses eventos gente que gosto muito, é claro, e parece que é tudo diversão, mas a verdade é que era isso, trabalho. Exige muito de mim estar ali.
Mas aí tem o Fran. Não importa quanto tempo eu fique longe, ele sabe que não é por mal. Respeita minhas dificuldades e ao mesmo tempo se esforça para estar presente. O Fran nunca me traiu - e isso é tão raro na minha vida. Sábado passado fizemos um churrasco aqui no condomínio. Foi a primeira vez que fiz algo pra mim e meus amigos desde que me mudei pra cá, há mais de um ano, e foi especial porque eles são como uma família. Tudo bem, uma família que choca todos ao redor, devo dizer. Haha. Mas tem sido bom demais ter meus amigos por perto, especialmente nesse momento meio difícil em que não sei o que tá acontecendo e também não sei se quero saber. Acho que eles nem imaginam a importância que tem, e seria muito chata se ficasse repetindo a cada segundo, mas se existe algo que me fortalece todo esse tempo e me permite levantar mesmo sabendo das dificuldades, é o amor e o apoio que eles oferecem.
Sei lá, às vezes você só precisa jogar Jenga e Black Stories enquanto fala das merdas que já fez na vida e das que gostaria de fazer, como se não houvesse impedimento algum. Às vezes você só quer ver os amigos da Aliança de picuinha com os da Horda, mesmo sem entender nada de World of Warcraft. Às vezes, tudo que você precisa é que dez dos seus amigos gritem “traz maconha!” pra alguém no meio do seu condomínio extremamente familiar e choquem a vizinhança inteira que, até então, nem te conhecia. A gente só precisa de amor mesmo.
Ainda tenho crises de ansiedade social, mesmo com eles. Fico mentalmente desgastada por dias depois de interagir. Encosto a cabeça no travesseiro e repenso cada frase que falei. Questiono cada vírgula, cada movimento. Eu ainda me julgo o tempo inteiro. E ainda tenho medo. Traição mina a confiança da gente. Mas tenho lutado contra isso. Tenho saído do casulo e estado com quem eu amo - e me ama. Isso faz toda a diferença. Ainda devo desculpas a muitos amigos com quem não consegui retomar o contato, e tenho consciência disso. Mas estou tentando seguir o meu ritmo e não ser tão dura comigo.
Ah! Percebi pelas respostas da última cartinha que não ficou muito claro: até dei uma sofrida por sentir sentimentos (to aqui escrevendo essa newsletter depois de uma noite de pesadelos muito doida com isso), mas o que tem me tirado o sono e feito pensar mesmo são problemas de saúde, física e mental. Era disso que eu tava falando no começo da news semana passada. Sabe quando você tá passando por umas coisas que não consegue nem processar direito? Então. Eu me abro um monte nesse espaço aqui, mas não o suficiente, rs. Na verdade, não falei disso com quase ninguém, não estou me sentindo preparada ainda. Mas é só pra esclarecer que não tou aqui sentada sofrendo por paixão, como ficou parecendo. Tem umas merdas mais pesadas ocupando minha cabeça.
Já que o assunto é desgraçamento de cabeça, quero só pontuar aqui: ORANGE IS THE NEW BLACK, POR QUE FAZ ISSO COMIGO? As temporadas tem ficado cada vez menos interessantes e ao mesmo tempo mais cruéis com o nosso coraçãozinho de quem se importa com as detentas. Não to feliz não, me respeita. Terminei querendo ir pessoalmente lá na Netflix bater no responsável pela temporada. Tão ruim, mas tão bom.
Peço desculpas desde já pela cartinha dessa semana e da anterior. Vou voltar ao normal e a falar de coisas interessantes e sair desse loop da minha vida ruim! Prometo.
Falta só mais um pouquinho!
Um beijo