Maltine do Bairro #8 - Sierra Burgess is Overrated
No mês passado, quando Insatiable saiu, a maioria das críticas se apoiava no fato de que o trailer de Sierra Burgess prometia exatamente o contrário: representatividade de verdade, uma produção teen com protagonista gorda e sem problemas de autoestima e que provava pra meninada que não, você não precisa confiar exclusivamente na sua aparência pra ser feliz.
E aí o filme chegou e o balde de água fria também. Porque, apesar do trailer ter passado a mensagem do jeito certo, não foi dessa vez que tivemos espaço para representatividade, não.
Já vou começar avisando que assisti Sierra Burgess por motivos fúteis: estou definitivamente apaixonada pelo Noah Centineo. Só isso já me garantiu o quentinho no coração que espero quando vejo um filme desses (e ainda bem, porque se dependesse da história...). Ele segue atuando como o crush perfeito.
Sierra Burgess is a Loser é um Cyrano de Bergerac moderno, a história do ‘patinho feio inteligente’ que coloca suas palavras na boca do ‘galã’ em busca de uma conquista. Já começou errado, né? Tinha tudo pra mostrar que todos somos incríveis e podemos ser amados, que a autoestima independe de estar dentro dos padrões, mas não: pesou demais a mão no creepy. Quer dizer, o catfish começa acidental, mas Sierra toma consciência dele e segue o plano, de forma elaborada, mesmo sendo alertada sobre o erro, sabe? Não é só pesado, é criminoso, e além de destruir a tal imagem positiva que ela tinha, leva a gente a crer que ela é mau caráter. Em resumo: não dá nem pra simpatizar com a personagem, e a gente se vê de novo numa história sobre a redenção da tal menina magra malvada e popular que faz amizade com a nerd excluída e prova que não é uma pessoa tão ruim assim, a vida dela é que é difícil.
O tempo todo, Sierra é atacada por sua aparência. Piadas homofóbicas, transfóbicas. Até os professores entram nessa onda. O melhor amigo dela trata ela como um lixo, pelo amor. A gente só queria um filme teen com uma protagonista gorda que é desejada, vista como um ser humano bonito, sem o já batido discurso de "ainda que ela seja assim, o que importa é a inteligência/a personalidade". Porque é basicamente essa a mensagem. A mensagem que a gente ouve todos os dias da nossa vida, e que resume o filme: “ela é legal, apesar de ser gorda”; “ela merece uma chance, apesar de estar fora dos padrões”. A ideia de que, se você não está dentro dos padrões, você precisa, de qualquer maneira, compensar por isso - e agradecer a todos que se submeterem a te oferecer qualquer migalha.
É 2018. Ninguém aqui quer mais migalha alguma.
A atuação deles é boa, é o que segura a gente até o final. E tem uns bons momentos FOFOS, outros em que me identifiquei (afinal, infelizmente, a gente passa por essas merdas - e exatamente por isso não quer ver reproduzidas para as próximas gerações), mas em geral não dá. Ainda mais saindo logo depois de “Para todos os garotos que já amei”, que foi impecável. Sou uma vendida e assistiria mais dez vezes pra ouvir o Noah falando com a voz rasgada? Sim. Mas o caminho até a representatividade ainda é longo. Não foi dessa vez, Sierra.
Como nem só de coisas ruins se faz uma Netflix, sexta-feira saiu também a segunda temporada de Atypical, uma das minhas produções originais favoritas. E, logo depois de assistir o filme da Sierra, corri pra abraçar a almofada e passar algumas horas com a família de Sam.
(Se você não conhece a série, tem um post no Indiretas que fizemos quando saiu.)
Gosto muito da maneira como Atypical aborda as dificuldades do dia a dia de Sam, um adolescente no espectro autista, e sobretudo da sua família, que aprende todos os dias como lidar com suas peculiaridades e com a forma como o mundo o trata. Amei a evolução do pai dele, por exemplo, embora doa um pouco saber que ele demorou tanto pra perceber o quanto era difícil não só para o Sam, mas também para a mãe.
Nessa segunda temporada, em que Sam lida com diversas mudanças e busca a independência enquanto descobre se quer ir à faculdade, podemos conhecer melhor o que cada um representa na vida dele de forma individual, e é uma delícia acompanhar as histórias, que nos levam do riso ao choro sem que a gente perceba. As mulheres, principalmente, tem um papel especial, tomando as rédeas das próprias vidas, fugindo dos padrões heteronormativos de sociedade e tentando fazer as coisas funcionarem da maneira que acham melhor pra si mesmas. Se eu já amava, imagina agora? Já sei que vou rever, não tem condições.
Segunda-feira rolou o passeio pela fábrica da Faber-Castell!!! Dá pra ver um pouco de como foi lá nos destaques do meu Instagram. Preciso confessar que, desde então, estou de luto pelo fim da minha felicidade. Foram muitos dias incríveis em sequência, como se eu estivesse vivendo num sonho, e na segunda à noite, por mais cansada que estivesse, o corpo já não aguentando mais, eu só conseguia pensar “poxa, queria que minha vida fosse sempre assim”.
Estar cercada de pessoas que me inspiram há anos e observá-las criando, conversando, simplesmente convivendo... Foi maravilhoso. Eu saí de lá inspirada, motivada, produtiva e sei que essas coisas não duram muito, mas só de ter vivido tudo isso estou preenchida por uma gratidão tão grande que não sei nem expressar.
Na terça, apesar de ainda meio travada, acho que produzi melhor na aula, um reflexo desses dias lindos ao lado de tanta gente segura e foda. Tenho desenhado mais também, e sido menos dura comigo em relação aos resultados. Em resumo: essa experiência da última semana foi muito, muito boa pra mim. Queria mais. Quero mais. Por isso mesmo tenho mantido por perto as pessoas que me inspiram e fazem bem. Gostaria de não me sentir um incômodo 24/7, mas isso infelizmente está fora da minha alçada.
O que nos leva ao próximo assunto: essa semana não tive terapia, e nossa, fica cada vez mais claro o quanto estou precisando. Sinto que evoluí bastante desde que comecei e ficar sem me deu uma empatada na vida também. Tem certas coisas que a gente precisa botar pra fora e analisar. Mas quinta tá aí e logo resolvemos também.
Estou finalmente pendurando os prints que comprei em edições passadas da Comic-Con na parede do escritório - tava tudo muito branco, muito hospitalar. E esse mês, se tudo der certo, resolvo o problema de saúde que está me incomodando e tomando tempo desde julho. Então é isso.
Também tô pensando em montar uma lojinha. E postar textos e ilustras no insta. Tudo coisas que me ocorrem há anos mas eu começo e não sigo. Veremos.
Enquanto não volto por aqui, sempre podemos nos falar pelo Twitter e pelo Instagram.
Beijo <3