Martine do Bairro #18 - amor e outras drogas
eu não sei se queria falar de ausências, mas elas falam comigo o tempo todo.
a casa,
o quarto,
a cama,
meu peito.
fica tudo tão vazio quando você não vem.
aos poucos aprendo a não duelar com esse vazio, a chamá-lo meu amigo, enxergar beleza no desalento.
vou dançando entre as inseguranças e preenchendo os espaços com a música da minha saudade. às vezes sinto seu cheiro de repente, e por um segundo esqueço que você não está ali.
sua ausência é a mais presente que já vivi.
eu ainda tava NAQUELA vibe da playlist da sofrência, me sentindo completamente viciada em “até o fim”, do jéf. meio que acho que a letra é minha biografia resumida. e me inspira pra caramba. daí ele me contou que compôs depois de ver “amor e outras drogas”, um filme que eu amo demais e que você devia amar também, por sinal, fica aí a dica: tem na Amazon Prime pros sofredores de plantão.
o que eu fiz senão voltar da terapia na quinta-feira (ainda meio inebriada do tanto que eu botei pra fora na sessão dessa semana) colocar uma pipoquinha no fogo e assistir sozinha?
e foi leve, assim como tem que ser a sofrência saudável, rs.
mas também me fez pensar um pouco sobre a dinâmica da minha vida.
eu não conseguia sentir. e aí senti.
mas agora não sou capaz de falar.
são tantas coisas falando comigo, tantas vozes alardeando sentimentos e paranóias na minha cabeça.
e talvez fosse saudável dizer.
coisas como “eu gosto de você”.
“queria te ver agora”.
“sonhei com você ontem”.
"agora não. mas quando?"
coisas simples, mas que muitas vezes eu abro a boca e simplesmente não saem.
isso porque eu sei que, quando saem, acabam causando o efeito reverso. gostar de alguém afasta. mesmo quando é leve.
às vezes eu só queria estar muito doida vomitando verdades que a lucidez prende na minha garganta, que o medo amarra no meu peito. mas aí, provavelmente eu estaria aqui me culpando por falar demais. onde é o equilíbrio?
não é nada sério, mas também não é pouca coisa.
e eu interpreto cada mudança como um sinal ruim.
até nos meus sonhos as coisas dão errado. sinto que minha ansiedade vai me fazer morrer sozinha. talvez não fisicamente, essa é a pior das peças que a ansiedade prega. eu posso nunca estar sozinha. mas eu sinto que sim. e aí eu afasto o melhor que vida me traz.
Daniel colocou em palavras essa semana algo que bate muito de frente com essa sensação (e que, por sinal, tenho usado muito no último mês pra combater um pouco a euforia):
“(…) Nem sempre vai ser do jeito como você está acostumado. Às vezes vai durar uma tarde ensolarada na Avenida Paulista fechada enquanto uma banda fantasiada de panda toca Mr. Brightside. Vai durar uma rapidinha no seu quarto do intercâmbio porque vocês dois têm que pegar um vôo para cada lado do oceano e só têm cinquenta minutos para extravasar a vontade de morar no outro. (…)
Nem toda pessoa incrível que cruza com a gente vai durar o tempo de uma vida inteira. De vez em quando, nós vamos encontrar amores espalhados pelo mundo, gente com quem a alma sorri junto, que tem cheiro de pão de queijo e café coado na fazenda, que parece um daqueles confortáveis travesseiros da Nasa quando a gente deita a cabeça neles.
Nem todo mundo que a gente encontra vai passar por aquelas conhecidas fases de início, meio e fim. Tem gente que se finda no mesmo dia, tem gente que ainda demora um pouquinho pra ir embora. Nós mesmos vamos embora daqui a pouquinho – e isso não é algo necessariamente negativo. São bons encontros de alma.
É gente que arrebata a gente. Gente que deixa uma marca bonita nos 365 dias de algum ano, que faz você se sentir mais vivo só de ter passado pela vida dele. Gente que vai deixar uma pulga atrás da nossa orelha quando nos perguntarmos “e se…” E você não precisa se desesperar porque deixou essa pessoa escapar pelos dedos. Ela não é a primeira, não vai ser a última também. Nem todo mundo que passa pela nossa vida tem que ficar. (…)”
o texto inteiro tá aqui. sigam o dani, ele é demais. <3
se você chegou até aqui prestando atenção, já notou como minha cabeça tá numa espiral de contradições nos últimos dias.
como eu tenho vontade de sair, mas não tenho vontade de ficar. como eu luto pra estar fora de mim apenas porque dentro de mim anda desconfortável demais.
não que seja extremamente confortável fora. mas viver outras realidades me ajuda a entender a minha, ou é essa a sensação que eu tenho por enquanto. e enquanto eu viver, as coisas vão se encaixando.
no meio desse turbilhão todo (ando meio perdida, acho que dá pra notar), ontem o Fran me disse algo que ressoa no meu peito até agora.
“não tem nada mais bad do que uma pessoa que morreu por dentro. (…) você tá viva. e era algo que você super achava que tinha morrido. tem mais motivos pra comemorar do que você imagina.”
não tem como colocar a mensagem inteira sem expor completamente a minha vida, infelizmente, porque ela basicamente resume minhas experiências recentes e tudo que tem atormentado minha cabecinha. mas é isso: eu preciso lembrar que todos esses sentimentos são a prova de que eu estou viva. e eu estava comemorando isso há pouco por um motivo, não é mesmo?
eu não vivia assim desde, sei lá, meus 22 anos.
é bom demais. nesse fim de semana teve VHS, fui surpreendida pela vida. depois, teve Toda Grandona. fui surpreendida pela vida de novo. estar aberta a essas surpresas é algo libertador. então por que eu insisto em me aprisionar aqui dentro?
o último episódio do exaustos foi sobre contratos sociais. pelo menos tentou ser, hahaha! foi um misto de desabafo, reclamação, bate-papo sobre o que a gente espera das relações X o que elas são e como tudo, tudo acaba sendo paradoxal quando entramos na seara dos términos.
quando a gente entra nesses papos meio pessoais eu duvido um pouco da relevância dos episódios, mas no fim são o que geram mais feedback positivo, então eu queria compartilhar aqui. acho que é uma discussão que tem muito a ver com o que costumo contar por essas bandas, anyways.
se você me segue no instagram, provavelmente já viu essa conversa que eu tô trazendo pra cá aqui embaixo (mas é possível que não, já que esse algoritmo não anda ajudando).
a paz é feita de recortes, né? às vezes bate umas nóias de querer entender por que é que as sensações boas passam tão rápido e as ruins causam um impacto tão grande. é bom demais ficar feliz, viver experiências gostosas. e é devastador lidar com perdas, com traumas, com os outros, com a falta. coisas normais, coisas simples. coisas que pra você que está lendo talvez sejam tranquilas. mas nossa, pra mim é buraco no peito, tiro no escuro. é um abismo que nunca termina, e o frio horrível na barriga começa, aumenta e não para nunca mais, como se a queda não concebesse um ponto final.
aí a gente inspira. 1, 2, 3. expira. 1, 2, 3. segura.
de novo. de novo.
as lembranças boas vem de novo. as experiências boas vem de novo. mas até quando? por que não ficam um pouco mais? por que a gente se boicota tanto?
a ansiedade é um monstrinho que vem comendo a gente de dentro pra fora até quando parece que tá tudo bem.
às vezes eu me pego pensando aqui e olha, viver não é pra iniciantes mesmo.
é bom demais, mas é cada efeito colateral.
os exercícios de respiração não estavam funcionando muito bem com a ansiedade/pensamentos disfuncionais e, pra quebrar a espiral em que eu costumo entrar, me indicaram um questionário inspirado no pensamento socrático, pra ir desconstruindo a ideia até chegar na razão. honestamente? eu odiei, porque minha paranoia automaticamente me causa muito isso, ficar confrontando razão e emoção e o que faz sentido ou é só criação da minha mente. odiei, mas sigo tentando. a gente só se torna melhor assim, né?
esses dias eu peguei o Lost at Sea pra reler (aqui no Brasil ele saiu como À Deriva) e boy, oh boy, como eu amo esse quadrinho, que saudades eu tava dele. se você não conhece o Bryan Lee O'malley, deixa eu te apresentar: ele é autor da história do Scott Pilgrim (que pelo menos a minha geração viu se tornar filme e ícone da cultura pop - mesmo eu achando o Scott um grandessíssimo idiota).
Lost at Sea é a primeira graphic novel do Bryan e o único defeito é que acaba. ela conta a história de uma adolescente cheia de medos e que está aprendendo a se relacionar depois de um final traumático de amizade. como qualquer adolescente, Raileigh é chatinha. sério, prepara seu emocional pra lidar com protagonista chata senão você nem sai do lugar.
ela está viajando com um grupo de amigos, mas a maior parte dos questionamentos se passa dentro de sua cabeça, onde ela não deixa ninguém entrar. é algo sobre o qual falo muito aqui: as pessoas só veem o que a gente mostra. ninguém é exatamente aquilo que a gente vê. é poético, é rapidinho, e mesmo que você odeie, vai te ajudar a pensar um pouco.
recomendo de olhos fechados. se você não curtir, a culpa não é minha, rs.
agora meu café acabou e é hora de seguir trabalhando.
me conta uma alegria tua dos últimos dias? se não rolar, conta uma angústia. eu também faço isso aqui o tempo todo, né?
boa semana :)