News #6 - Correspondências, adolescentes gordas na cultura pop e um spin-off pra amar
Há alguns anos eu tinha o hábito de trocar e-mails com os amigos mais próximos. Longos e profundos, sobre tudo o que andava passando, sentindo, lendo. Não como essas cartinhas aqui. Aqui tento ser contida, porque sei que tem centenas de pessoas do outro lado. Eles eram um pouco mais reveladores, viscerais até. Já contei meus maiores medos por e-mail. Já recebi grandes desabafos também. Medos bobos, poesias, narrativas ficcionais. Foi assim que conheci - e amei - a Ryane. Que me aproximei ainda mais do Trecker e do Eric. Que lidei com a distância do Thássius por um tempo.
Foi assim que superei algumas paixões avassaladoras e acompanhei términos dolorosos de amigos. Histórias enormes guardadas nos servidores do Google. Amores nasceram, cresceram e adormeceram na minha caixa de entrada! Às vezes nem acredito nisso. No tanto de histórias que já vivi, que esqueço e que encontro arquivadas sem querer por aqui. E olha que nem estou considerando as contas que já perdi no processo.
Escrever essas news me mostrou que sinto falta desses e-mails. Toda vez que uma resposta chega, meu rosto se ilumina. Nem sempre respondo imediatamente, às vezes levo semanas. Essa é uma das razões de gostar tanto dessa mídia, não tem a urgência que as redes sociais e os celulares impõem à gente. Eu não funciono assim. Minhas caixas de entrada de Twitter, Facebook, Instagram, WhatsApp... estão todas abarrotadas. Não é por mal que evito todas elas. Me causam crise de ansiedade. Às vezes eu literalmente passo mal com notificações de mensagem. Nem sempre quero responder na hora, ler na hora. Nem sempre CONSIGO qualquer uma das duas coisas. O imediatismo me apavora.
Muita gente me odeia por isso (já recebi mensagens de ódio, não estou deduzindo). E não posso julgar, é claro. Tem tanta gente sempre disponível. Mas aprendi que também não posso cobrar tanto de mim. Cada um com suas limitações.
Os e-mails não me dão crises de pânico. Podemos conversar tranquilamente por aqui. E aí vem uma resposta, ou não. Sempre sinto que tem alguém do outro lado pensando naquilo que disse, nem que seja apenas pelos minutos que reservou para ler. Eu não estou sozinha, mas também não estou sufocada e pressionada a reagir de imediato.
Eu vivo pra isso.
Também porque escrever meus sentimentos sempre foi muito mais fácil do que qualquer outra coisa. Aliás, é assim que sou capaz de identificar quão grave é a crise pela qual estou passando: se não consigo escrever sobre ela, se não sou capaz de colocar algo em palavras, definitivamente estou no olho do furacão. Preciso escrever pra entender. Isso significa que, muitas vezes, vou entrar em contradição. E, com sorte, depois de ler, reler, interpretar, entrarei num consenso. Sim. Comigo mesma.
E, com sorte, anos depois, vou ler e não fazer ideia do que estava falando. Como se lesse pela primeira vez o texto de um desconhecido - mas, ao mesmo tempo, com um estranho déja vù esquentando o peito.
Porque a vida é isso. Uma sucessão de situações extremamente importantes e reveladoras que achamos que nos marcarão para sempre mas que, após mudarem o curso do nosso destino, simplesmente desaparecem para dar espaço a outras, tão importantes e marcantes quanto.
Esse fim de semana teve Bienal do Livro. A minha quarta como autora, segunda em São Paulo. E é incrível como é especial a sensação tanto de encontrar pessoas que gostam daquilo que você produz e vão até lá para te ver, quanto de conhecer pessoas que não fazem ideia de quem você é ou o que faz, mas estão abertas a dar uma chance ao seu trabalho. Foi incrível.
Também foi incrível demais ver os amigos lançando livros, estreando nos mais vendidos, fazendo o maior sucesso do mundo. É bom demais ver gente que a gente gosta crescendo. Nem preciso dizer que comprei uma cacetada de livros e agora estou aqui, tentando coordenar a lista de leitura, né?
Comecei por Leah Fora de Sintonia, da Becky Albertalli, que é o segundo livro dentro do universo de Com amor, Simon, que virou filme ano passado. Cada vez que termino um YA que gera muita identificação eu literalmente SOFRO por já estar velha demais. Gosto muito das protagonistas da Becky, da forma como se relacionam com o próprio corpo e com o mundo. E gostei da Leah, apesar de perceber que muita gente odiou, porque achei ela a adolescente típica, aquela que pensa que tem um gosto musical superior, que é mais inteligente e tal, se faz de durona, mas no fim é tão insegura e cheia de conflitos quanto qualquer outra. Leah é gorda, bissexual, nerd, tímida e muito, muito reclamona. OI, TUDO BEM?
Katherine Langford é Leah Burke na versão cinematográfica de Com amor, Simon
Gosto da forma como ela fala da sexualidade, de como é algo claro e ao mesmo tempo tão complicado de lidar pra ela. Tem muito fan-service e cenas sobre o relacionamento perfeito do Simon que eu fico pensando DE ONDE VEIO ISSO? QUAL A NECESSIDADE? Mas tudo bem, né, a gente entende. O primeiro livro fez sucesso. E tem horas em que eu me sinto lendo o meu feed do Twitter: é yaoi pra cá, fanfic pra lá, um milhão de referências a Harry Potter… Aliás. Pausa para referência:
— Não consigo evitar. Sou Sonserina.
E sou o pior tipo de Sonserina, aquele que está tão perdidamente apaixonado por uma Grifinória que nem consegue raciocinar direito. Sou o Draco de alguma fanfic Drarry bosta que o autor abandonou depois de quatro capítulos.
SOU EU. Quer dizer, é a Leah.
Mas sou eu.
Quantos anos eu tenho?
Basicamente é isso. Adorei a forma como o romance se desenvolveu - sinceramente, se pudesse escolher o par ideal, não seria esse, achei um conflito desnecessário com uma solução até meio cruel no geral (e essa sou eu tentando reclamar do livro sem dar spoilers). Mas aí, novamente, estamos falando de adolescentes, o drama costuma ser um pouco maior mesmo, não dá pra julgar certas atitudes com minha cabeça de quem já passou dos 18 faz teeeeempo.
Vale a leitura, especialmente se você curtiu o primeiro. Se não leu, recomendo. Aliás, Os 27 crushes de Molly, da mesma autora, também tem ligação com esse universo do Simon e é o meu favorito. Se for pra ler só um, escolha ele. Já mencionei lá no Podcast Wanda e sempre que alguém lê e me marca contando que curtiu eu fico super feliz. ;)
Infelizmente não é todo mundo que tem talento pra botar uma protagonista gorda pra falar da adolescência e de como é viver num mundo de pressão estética, e aí a gente se depara com Insatiable, a série que a Netflix lançou sob protestos do grande público depois de divulgar um trailer extremamente gordofóbico.
O que pouca gente imaginava era que o fatshaming é só a ponta do iceberg, tipo… O menor dos problemas. E isso sou eu falando, eu que luto contra isso todo dia. A convite da Anna Lívia e da Thaiana, participei do Sete e Quinze dessa semana, em que falamos sobre tudo que há de problemático na série (é muita, muita coisa). Pra ouvir, é só clicar aqui.
E sigo me questionando: a representação da mulher gorda ALÉM DA GORDURA na ficção, quando vem? Quando veremos uma protagonista gorda vivendo uma vida normal nas telas, sem focar basicamente no drama sofro bullying / não aceito meu corpo / não encontro um homem que me ame assim / tô fazendo mais uma dieta aqui? Tô procurando de verdade.
Insatiable não foi a única série que vi essa semana. EU MERECIA ALGO BOM!!! MERECIA!!! E, quando descobri que tinha The Good Fight na Amazon Prime Video, SURTEI. Como uma viciada em The Good Wife (que também tem todas as temporadas disponíveis na Amazon Prime e na Netflix), devo dizer que fui CONTEMPLADÍSSIMA. Assisti a primeira temporada numa sentada só e guardei a segunda pra saborear mais tarde. Que saudades estava desse cast maravilhoso.
O spin-off começa um ano depois do season finale de The Good Wife, agora com Diane Lochart como protagonista: a advogada, já prestes a se aposentar, é surpreendida por uma notícia que impacta também a vida de Maia, sua afilhada e protegida. Juntas, as duas começam a trabalhar numa das firmas mais promissoras de Chicago, onde Lucca, amiga de Alicia, é associada. E aí é dedo no cu e gritaria, como de costume, com uma trama sempre atual, política e crítica, mas ao mesmo tempo bem humorada e leve. Eu adoro, sou suspeita.
Estão de volta os personagens mais carismáticos da série original e não tem como não vibrar a cada aparição no tribunal. Tô curtindo muito. Não vejo a hora de contar pra minha mãe, que também é viúva de TGW.
Ps: A ficha do Gary Cole é limpa? Porque nossa, não consigo não perder o ar todas as vezes que esse homem entra em cena. MAJOR PANTY DROP.
Essa semana foi só isso mesmo.
Fiz uma playlist pra ouvir à noite e estou viciada, não consigo parar de ouvir, meu coração emo implora pra compartilhar com o mundo. Clica aqui e boa sorte.
Enquanto não volto por aqui, sempre podemos nos falar pelo Twitter e pelo Instagram. E gostaria de encerrar a cartinha dessa semana com a foto do Paul Rudd com um doguinho no colo. Just because.
Beijo,
Ari.