Nesses últimos anos eu fiquei muito perdida.
Não foi exclusividade minha, né, todo mundo foi pego de surpresa por um horror atrás do outro e se viu obrigado a confrontar não só medos e dores como também o próprio interior, estando entre quatro paredes sozinho por tempo demais. Mas não posso falar pelos outros, só por mim.
Primeiro achei que não fosse passar. Depois vi todo mundo voltando ao normal e me cobrei por não conseguir acelerar no mesmo ritmo. Por fim, aceitei que o tempo de reconstrução é particular. O que não quer dizer que eu esteja em paz com a demora.
Às vezes eu me arrisco, crio coragem para tirar do papel sonhos que existiam muito antes do mundo como conhecemos hoje, e me faz bem. Mas também tem os momentos em que fico paralisada diante de tantos processos que parecem simples para os outros mas que são quase impossíveis pra mim na maior parte do tempo. É solitário, aqui dentro da minha cabeça. E fora também.
Começar, recomeçar, aprender, se conhecer. Se reconhecer. É solitário e não muda.
Existem momentos em que você está cercado de pessoas e, num estalar de dedos, não sobra ninguém. A internet segue viva validando aquele pensamento intrusivo que diz que o problema é você. O silêncio é com você. Todo o esforço do mundo para funcionar não é suficiente, você não se encaixa, não por muito tempo. Nunca. Cansa bastante. Eu me questiono se poderia fazer mais. Se deveria. Mas como, se já estou dando tudo de mim? Talvez seja muito pouco. A solidão pesa. Invisibilidade nem sempre é um superpoder.
Então eu me fecho mais, me silencio mais, tudo isso enquanto tento fazer as coisas parecerem normais. Eu tento não me importar com nada porque me importar não parece dar resultado. E sigo um dia depois do outro, depois do outro. Feito um rato na roda. Trabalhar pra conseguir pagar as contas. Os gastos que a ansiedade provocou. Mais um dia, menos um dia.
Uma hora a gente se encontra. Ou não, que eu mesma já nem sei se lembro como é não estar perdida.
Brutal o texto, me identifiquei muito mais do que seria saudável... Sigo tentando voltar ao "normal", sigo falhando miseravelmente (e solitário). Valeu pelas palavras ;)
Ari, o tanto que esse texto ressoou com algo que também sinto é muito real. E também existe esse silêncio por dentro mesmo na tentativa de voltar a ativa socialmente principalmente na internet, as vezes vem muito um movimento de tentar interagir na marra em momentos que a energia só não tá lá.
Mas não tem lição de moral ou clichê pra ajudar, é só isso mesmo. Tenho fé que uma hora a gente sempre se encontra, mas podia ser mais rápido hahahah
Obrigada por esse texto. Saiba que tem muita gente - pelo menos falo por mim - que tá aqui de cantinho torcendo sempre por vc independente de todos os processos individuais e internos que estamos passando. <3